Entrevista com José Valcir – anos depois da Pátria Amada
Durantes a existência da PADA Produções, José Valcir foi um atuante associado, que desde os anos 80 vem fazendo estórias na história da PADA/Prismarte. Diferente dos demais roteiristas, Valcir na maioria das vezes optou por roteiros com víeis históricos, e teve uma sequência de produções com um gênero singular. E Pátria Amada foi uma destas história, que também com o lápis de Fábio Cassiano, se tornou um clássico da Prismarte, que a pedido de alguns que a leram no passado republicamos nesses anos (30 + 3 anos) que se aproximam aos 40 anos da Prismarte.
Nessa entrevista, tentamos captar a alma criativa do autor, e as expectativas de sua criação antes da concepção, e nos fazer compreender o que fez desta simples, mas emocionante história um reflexo daqueles dias de conflitos de pouco prazeres e muitos pesares no ponto de vista social. Por isso Valcir relata inspiração ao o processo de criação da Pátria Amada.
1- Qual foi a motivação para criar a história Pátria Amada?
Eu responderia a: reminiscência. Ou seja, lembranças de criança de quando ouvia meu pai falando com meus tios e amigos, e até mesmo em casa, ao sussurro, sobre o que acontecia lá fora deveria ser falado em voz baixa. Por isso aquela cena do garoto escovando os dentes e na porta da cozinha, ouvindo os pais conversando. Sempre em tom mais baixo não muito claro sobre os acontecimentos nas ruas. De certa forma, aquele garoto de oito, dez anos, refletido ali, na história, sou eu. Portanto, eu queria falar sobre os bastidores, ou da vida das pessoas, que viviam sobre um regime que assustava. Entretanto, deixo claro, não vivíamos sob ameaça, mas falar de um momento conturbando da história brasileira, sem ser levantando alguma bandeira, nem fixando trincheira, foi o objetivo em escrevê-la: expor um momento da vida. Assim como fiz em “João Ninguém” e “Providência”.
2- Como foi o processo de produção da história Pátria Amada ao lado de Fábio Cassiano?
Foi ótimo. Até porque Cassiano, daquele jeito tranqüilo, aceitou minha direção, dando um rumo melhor a arte inicial apresentada. Além disso, ele acrescentou uma cena à história (ou quadrinho) que não havia pensando no roteiro, de que quando acordamos, temos o hábito de roçar os pés. (RS). Outro ponto a considerar a arte de Fábio Cassiano à obra em questão, é que naquele momento dos anos 1990, surgia a produção autoral, cujo roteiro e desenho seguem num mesmo propósito; todavia, ambos tem a liberdade de expressão, que até então era desconhecido em virtude do trabalho industrial imposto pela DC e a Marvel.
Devo acrescentar o nome de arte-finalista André Gomes Torres. Assim como Cassiano, o André foi relevante no trabalho de pós-produção no desenho, dando mais ênfase em algumas cenas, causando forte impacto visual e enriquecendo mais ainda o trabalho do desenhista. Não só isso: foi responsável em “engravidar” a personagem mãe da história. Isso deu mais dramaticidade ao roteiro, algo que não havia imaginado no roteiro original. Portanto, agradecer ao Fábio Cassiano e ao André Gomes Torres é mais do que justa nessa minha trajetória como roteirista.
3- Quando escreveu a Pátria Amada, você tinha uma compreensão real do que foram Os anos de Chumbo? Ou você considera que entende melhor a “Ditadura de 64” nos anos atuais?
Não tinha. Hoje, sim, um cinqüentenário, quase jurássico (rs), entende melhor. O ginásio e o científico – na atualidade: fundamental II e ensino médio -, além de documentários e filmes, permitiram um conhecimento melhor sobre o tema. E um material ainda mal explorado pelos nossos quadrinhistas, que acha melhor viajar em GOT, Segunda Guerra Mundial (viés americano), viagens no tempo do que se debruçar sobre o que aconteceu no Brasil.
4- No decorrer dos anos, você escreveu João Ninguém. Você considera essa história seguindo o mesmo pensamento, o mesmo gênero de Pátria Amada?
Considero. Na verdade, involuntariamente, Pátria Amada, João Ninguém e Providência, é uma trilogia, independentes. Mas que se complementam. Na primeira, há uma criança que é um mero espectador, que ver e ouve e nada manifesta. Que entra em conflito consigo mesmo diante dos conflitos que vão se apresentando ao longo da história. Depois temos a segunda história sobre um rapaz, também espectador de uma País em crise, com um presidente narcisista e exibicionista, superinflação, desemprego. As rádios tocando música urbana, Legião Urbana, Plebe Rude, Capital Inicial… enfim, um rock in roll à brasileira de primeira qualidade. Com toda essa crise vem o questionamento sobre Deus. É nesse clima que vem à mente Providência. Uma crise existencialista sobre os problemas da vida e sua relação com o Divino. Portanto, cada uma daquelas três histórias é uma representação de mim mesmo em cada momento da minha vida.
5- O autor, que tem uma visão responsável de sua obra, sabe a relevância do que produz! No seu caso, o que espera de suas obras em relação aos que a lêem?
Sinceramente, eu espero ter deixado uma mensagem positiva. Ou, ao menos, uma reflexão. Creio que seja isso cada um, que produz algo, tem a fazer: plantar uma semente. Como Jesus, no Sermão da Montanha fez: deu sua palavra: “Aos que querem ouvir, que ouçam”!
Talvez eu tenha conseguido, pois pessoas perguntavam sobre ela, que foi republicada (rs). Escrever é uma Arte, mas tem que ser feito com responsabilidade pois hão de lerem e o que for dito ali, pode ajudar ou atrapalhar muita gente.
6- Quais o projetos que ainda almeja desenvolver em quadrinhos?
Sou lento para escrever, devo admitir. Meu processo criativo é resistente e fervilha dentro da cabeça e explode em idéias dentro do ônibus, quando viajo em pé, indo trabalhar (rsrsrsrs). Sério isso. Comecei a escrever e estava adiantado com dois roteiros, que seguiam a linha de terror e sobrenatural. Além de pequenos contos que pretendia torná-lo público em forma de livro, contudo… meu HD quebrou e perdi tudo (triste!). Os roteiros para quadrinhos teve pré-produção organizada, com reunião e tudo mais para finalização. A outra, eu mantinha em segredo pois buscava alguém para desenhá-la depois de pronta. Como disse, sou lento para escrever e tenho menos tempo hoje e paciência para desenvolver qualquer coisa. Entretanto, um desses roteiros será retomado pois pessoas acreditaram em mim e não posso falhar com minha palavra.
Serviço:
Prismarte # 65
Capa Colorida miolo em P&B.
32 páginas
R$ 6,00 + R$ 3,00 de correios Ou pelo Pagseguro (botão abaixo)
Confirme seu pedido pelo e-mail: primarte@prismarte.com.br
ou pelo facebook: https://www.facebook.com/PADA.Quadrinhos/
8 Resultados
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